Paraíba

Pokémon da Caatinga: professor incentiva alunos a criarem personagens inspirados em animais da região e ganha prêmio

Por PCV Comunicação e Marketing Digital

03/07/2022 às 09:46:17 - Atualizado há
Linaldo Luiz de Oliveira, de 26 anos, é professor de ciências da natureza e, junto com uma turma de alunos do 9º ano do ensino fundamental, desenvolveu um projeto de Pokémons da Caatinga. Professor incentiva alunos a criarem 'Pokémon' inspirados em animais da Caatinga e ganha prêmio

Reprodução

O professor de ciências da natureza Linaldo Luiz de Oliveira, 26 anos, foi selecionado como um dos 10 professores vencedores do Prêmio Educador Nota 10, o único paraibano, por ter realizado um projeto em instigou alunos a criarem personagens baseados no anime Pokémon, inspirados em animais da caatinga.

Linaldo se destacou na educação pelo trabalho pedagógico "Um Ensaio Biocultural: O Saber da Minha Origem com 'Dinamus' da Minha Geração", que foi realizado com seus alunos do 9º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Iraci Rodrigues de Farias Melo, em Mogeiro, no Agreste da Paraíba.

O objetivo era incentivá-los a investigar as raízes culturais e ecológicas em Mogeiro, local onde a caça é passada de geração para geração, tema central da realização do projeto pedagógico. Ao todo, 161 alunos estiveram presentes na aplicação e produção do projeto.

Um ensaio biocultural

Linaldo fez licenciatura e bacharelado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), e é mestre em Ecologia e Conservação também pela UEPB e leciona em uma escola municipal de Mogeiro. A ideia de se fazer um projeto inspirado no bioma local se deu a partir da vivência que Linaldo obteve durante o período de construção do seu mestrado.

Linaldo Luiz de Oliveira, 26 anos, vencedor do prêmio Educador Nota 10

Linaldo Luiz de Oliveira/Arquivo Pessoal

Durante o mestrado de Linaldo, em uma pesquisa numa comunidade de pescadores na Barra do Rio Mamanguape, ele, entrevistando uma das moradoras da comunidade local, observou que a moradora falava sobre todo o conhecimento adquirido na coleta de ostras, material que ela explorava, sem nenhuma instrução acadêmica, e se notava um conhecimento profundo de alguém que viveu e aprendeu sobre o trabalho diário que explorava.

Isso fez com que Linaldo lembrasse das questões da caça, praticada na cidade de Mogeiro, que é uma tradição local passada de geração para geração. Então, o professor quis aplicar algo que envolvesse o contexto ecológico local em um projeto pedagógico, e fez com que os alunos de sua escola unissem os aspectos e características da caça junto ao conhecimento moderno.

“Se notava um conhecimento extremamente profundo, de alguém que viveu e aprendeu com o trabalho diário sobre aquilo que explorava, diferente de mim que era um universitário que precisou passar por duas graduações e um mestrado e estava ali para aprender mais. Então, quando eu escutava a senhora (coletora de ostras) me lembrava bastante das questões de caça que é uma atividade tradicional realizada em Mogeiro e eu queria fazer com que os meus alunos unissem as questões de caça, que é observada até hoje, do conhecimento tradicional a toda a sua base contemporânea atual (animes, séries e redes sociais)”, explicou Linaldo.

Aulas remotas de alinhamento da produção do projeto em Mogeiro, Paraíba

Linaldo Luiz de Oliveira/Arquivo Pessoal

Para a produção do projeto, os alunos, incentivados por Linaldo, criaram “Pokémon” com base nos animais citados pelos caçadores da região. Cada um dos seres imaginados (que Linaldo chamou de "fakemons"), foi ilustrado por um desenhista artístico e recebeu uma ficha técnica com informações bioculturais e ecológicas da espécie que o inspirou.

Cada “Pokémon” criado foi baseado em uma espécie da caatinga. Segundo o professor, os alunos entrevistaram caçadores locais, membros de sua comunidade e de suas famílias, tiveram aulas interdisciplinares e, através dos dados obtidos, aplicaram em cálculos matemáticos e chegaram às suas próprias conclusões.

Para ampliar ainda mais os saberes dos estudantes, o professor convidou um acadêmico de referência da área de zoologia cultural para debater sobre as relações entre as pessoas e a natureza ao seu redor.

O processo de iniciação do projeto teve início em abril de 2021, em sua maioria de forma on-line, e, segundo Linaldo, o projeto não apenas ajudou no processo de aprendizagem dos alunos, mas também ajudou na diminuição da evasão escolar. “De início, os alunos adoraram, tiveram uma participação incrível ao longo do projeto, isso serviu, inclusive, para diminuir as taxas de evasão escolar”, comentou.

Confira cada 'pokémón' criado no projeto e sua inspiração na fauna local:

Iguanamon - inspiração: camaleão

"Iguanamon", protótipo de uma iguana utilizada em um dos cards criados por Linaldo e sua turma

Linaldo Luiz de Oliveira/Arquivo Pessoal

Felinpos - inspiração: onça pintada*

"Felinpos", protótipo de uma onça pintada utilizada em um dos cards criados por Linaldo e sua turma

Linaldo Luiz de Oliveira/Arquivo Pessoal

*Segundo o projeto, nas raras aparições do animal na região, ele é caçado devido ao risco de predação dos rebanhos de criações de animais locais.

Tágos - inspiração: teiú

"Tágos", protótipo de um teiú utilizada em um dos cards criados por Linaldo e sua turma

Linaldo Luiz de Oliveira/Arquivo Pessoal

Super Lizard - inspiração: calango

"Super Lizard", protótipo de um calango utilizada em um dos cards criados por Linaldo e sua turma

Linaldo Luiz de Oliveira/Arquivo Pessoal

Foram necessárias 64 aulas, ao longo de oito meses de projeto, levando em consideração que eram duas aulas semanais. O projeto foi submetido ao prêmio Educador Nota 10 em junho de 2021 e recebeu o resultado positivo da premiação em fevereiro de 2022. Linaldo explica que o projeto não foi somente uma execução exclusiva à sala de aula, mas que toda a comunidade local, de alguma forma, contribuiu para o projeto.

“O projeto foi além das fronteiras da escola. A capacidade que os meus alunos tiveram de envolver a comunidade local, ou seja, os caçadores eram pais, vizinhos, avós, tios, e isso trouxe a participação familiar para o seu processo de ensino e aprendizagem”, explicou o professor. O material integrou um e-book e todo o material produzido foi divulgado nas redes sociais.

O professor de ciências da natureza explicou que a atual geração precisa de uma atenção mais especial quanto aos modelos de ensino e aprendizagem, pois o processo de ensino deve ser realizado concomitante à ferramentas que os estudantes têm contato diariamente, e que apenas expor aulas e explicações numa sala de aula pode não ser o suficiente para a assimilação do conteúdo, mas que instigar os estudantes a experimentar e construir seu próprio conhecimento é o caminho certo para o ensino aos jovens contemporâneos.

“É uma geração de jovens que necessitam de experimentar o tempo inteiro e ter uma aprendizagem muito mais ativa. Essas práticas que inseri com os meus alunos fez com que eles se tornassem protagonistas do seu próprio aprendizado. Se tornam práticas de aprendizagem muito mais ativas, através de uma aprendizagem que vai muito além de apenas uma aula expositiva, onde o aluno está apenas escutando, muito pelo contrário, ele experimenta, testa, ele é responsável pela construção do seu próprio conhecimento, claro que guiado por um aporte teórico visto em sala”, explicou Linaldo.

O prêmio

Linaldo na cerimônia de entrega do prêmio Educador Nota 10

Linaldo Luiz de Oliveira/Arquivo Pessoal

O prêmio foi novidade para Linaldo. E a novidade chegou com muita alegria e euforia, não só do professor, mas dos alunos que participaram do projeto e de toda a comunidade escolar em Mogeiro. Linaldo conta que recebeu a notícia positiva da premiação em 24 de fevereiro - tendo já passado por todas as etapas anteriores - e que foi muito comemorada por todos. A cerimônia de entrega do prêmio aconteceu em 10 de junho e cada selecionado recebeu um vale-presente de R$ 15 mil.

“A alegria e a euforia tomou conta dos meus alunos, minha, e de toda a comunidade escolar. Foi indescritível saber que eu estava entre os 10 vencedores do que hoje é o maior prêmio da educação básica. A sensação de ganhar o prêmio é algo que se leva um tempo para digerir, porque é um turbilhão de emoções, é a prova de que foi um trabalho bem feito, que deu certo, construído por mim e pelos meus alunos”, relatou.

Além de Linaldo, também foram homenageados outros nove professores vencedores de todo o país, em cerimônia de premiação realizada em São Paulo, das cidades de Aspásia (SP), Balneário Camboriú (SC), Iraquara (BA), Leopoldina (MG), Novo Hamburgo (RS), Porto Alegre (RS), São Bento (MA) e São Paulo (SP) – este com dois projetos.

Após receber o prêmio, Linaldo avaliou a importância do projeto não só enquanto professor, mas o quanto o projeto foi reconhecido e auxiliou no processo de aprendizagem dos alunos, o qual ele considera fundamental o “aluno ser protagonista de seu conhecimento”.

“Quando a gente para pra avaliar a importância do trabalho, nós notamos o quanto é importante anexar ao aprendizado do aluno o seu protagonismo, a cultura local, fazer com que eles sejam mais ativos durante todo o seu trabalho. Fazer com que a escola transcenda os seus próprios muros para trazer a cultura e a família local para dentro do ensino e aprendizagem dos alunos”, comentou Linaldo.

*Sob supervisão de Krys Carneiro

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Fonte: G1/PB
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