Paraíba

Órgãos discutem regularização fundiária de assentamento do MST onde dois trabalhadores foram mortos, no Sertão da PB

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Por PCV Comunicação e Marketing Digital

14/11/2023 às 13:14:23 - Atualizado há
Homem foi alvo de vários disparos e uma mulher que estava próxima acabou sendo atingida. Ela ainda foi levada para UPA, mas morreu em seguida. Trabalhadores do MST são assassinados em acampamento no Sertão da Paraíba.

Divulgação/MST-PB

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) na Paraíba, lideranças de movimentos sociais e representantes do Ministério Público Federal (MPF) discutiram, na tarde de segunda (13), a regularização fundiária do imóvel Sítio Rancho Dantas, no município de Princesa Isabel, no Sertão da Paraíba, onde dois agricultores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foram mortos na tarde do sábado (11).

O Incra se comprometeu a realizar o levantamento fundiário da área, pertencente à União, a fim de regularizar a situação das famílias do acampamento ligado ao MST onde moravam Aldecy Viturino Barros, 44 anos, e Ana Paula Costa Silva, 29 anos. O acampamento existe desde 2008 e abriga 22 famílias.

A área onde está localizado o acampamento foi doada ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB) pela Superintendência do Patrimônio da União (SPU), embora a transferência do imóvel nunca tenha sido oficializada. Anos depois, a área foi cedida pelo IFPB ao Governo da Paraíba, que a teria abandonado, mas sem devolvê-la formalmente ao IFPB. A Prefeitura de Princesa Isabel chegou a demonstrar interesse pelo imóvel, mas as tratativas não avançaram.

Acampamento do MST onde dois trabalhadores foram mortos, em Princesa Isabel, PB

Beto Silva/TV Paraíba

A solução discutida pelos participantes da reunião é solicitar à SPU a doação da área ao Incra para o assentamento das famílias do acampamento. Ainda não houve uma definição de como ficará a situação do acampamento.

De acordo com o delegado Douglas Garcia, ainda não houve uma linha de investigação definida para esse caso, mas que pode ser tratada como execução ou disputa de terras pela configuração do crime, e que Aldecy era o alvo do crime, e que Ana Paula estava no local errado.

Entenda o caso

Segundo a Polícia Civil, Aldecy Viturino Barros, de 44 anos, estava consertando o telhado de uma residência do pai de Ana Paula, e estava em cima de uma escada, na tarde de sábado (11). Ana Paula estaria segurando a escada quando dois homens chegaram em uma moto e informaram a Aldecy que precisavam da assinatura dele em um documento.

Antes da vítima descer da escada, os homens atiraram várias vezes contra ele, que morreu ainda no local. Ana Paula, que estava próxima de Aldecy, levou um tiro na cabeça.

A mulher foi socorrida pelo próprio marido em um carro particular para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) em Princesa Isabel, mas morreu em seguida em decorrência dos ferimentos.

Família de mulher morta no ataque lamenta

Ana Paula Costa Silva, de 29 anos, foi uma das vítimas de um ataque a tiros em um acampamento do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra da Paraíba (MST) na tarde do sábado (11), no Sítio Rancho Dantas, zona rural de Princesa Isabel, no Sertão da Paraíba. O pai da mulher lamentou o crime.

"Tô com medo e saudade da minha filha", disse Luís da Silva, pai de Ana Paula que morreu no ataque.

Testemunha do crime, o marido de Ana Paula, Lindomar Costa, disse que antes dos suspeitos chegarem no local, levou uma ferramenta para Aldecy e que logo em seguida os suspeitos chegaram numa motocicleta.

"Eu estava com minha esposa na cozinha, o rapaz [vítima] estava em cima da casa e me chamou para levar um martelo. Eu fui, quando cheguei lá, subi na escada, entreguei o martelo, quando chegaram dois caras numa moto e disseram 'quem é o coordenador daí?'", relatou Lindomar.

Segundo Lindomar Costa, os suspeitos exigiam que Aldecy assinasse uma documentação, não especificada sobre o que seria, e, caso ele não assinasse, a polícia seria acionada. Quando Aldecy estava descendo da escada para assinar o documento, um dos suspeitos começou a disparar contra o homem.

"Ele vinha descendo na escada, ele [um dos suspeitos] sacou uma arma e disse 'desça logo rapaz, senão eu chamo a polícia'. No primeiro tiro que disparou eu corri, fiquei lá embaixo, travado, não podia falar nada. Minha esposa ia chegando, eles estavam atirando e um deles pegou perto da cabeça [dela]", disse o marido da vítima.

Casa onde o crime aconteceu em Princesa Isabel

Beto Silva/TV Paraíba

O marido de Ana Paula, Lindomar Costa disse que não viu o rosto dos criminosos, por estarem utilizando óculos e capacete, o que dificultava a identificação dos suspeitos, mas que com o ataque a tiros o marido de Ana Paula ficou sem reação por conta dos disparos.

"Eu não vi eles direito. Quando ele sacou a arma eu fiquei travado. Quando ele atirou, no primeiro tiro, eu corri. Tragédia, né. Agora vou criar os meus filhos sozinho", explicou Lindomar como se sentiu ao ver o crime ocorrer. Ana Paula deixa três filhos.

Ana Paula e Aldecy não têm parentesco. A Polícia Civil investiga o caso e, por enquanto, não há identificação dos suspeitos, apenas informações superficiais, como cor da motocicleta utilizada no crime e porte físico dos suspeitos. Imagens de circuito de câmera de segurança estão sendo analisadas para identificar a rota de fuga dos criminosos, e, segundo o delegado Douglas Garcia, equipes policiais estão em diligências com a finalidade de encontrar os suspeitos.

MST da Paraíba emite nota

Em publicação nas redes sociais, o Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra da Paraíba (MST) da Paraíba denunciou o crime e exigiu justiça pelas mortes

"O MST cobra a apuração do crime e a prisão dos autores. Enquanto movimento, reafirmamos nossa luta contra toda forma de violência. Aos nossos mortos nenhum segundo de silêncio, mas uma vida toda de luta", afirmam em nota.

De acordo com o MST da Paraíba, Aldecy Viturino era coordenador do acampamento e tinha 2 filhos. O acampamento está no local desde 2008 e abriga 22 famílias. Uma das lideranças do MST na Paraíba, Dilei Schiochet, disse que é fundamental que a Secretaria de Segurança Pública do Estado garanta a segurança das famílias do acampamento e que as famílias de Aldecy e Ana Paula necessitam de auxílio financeiro.

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Fonte: G1/PB
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