Paraíba

Pandemia: "O mal está no homem", avalia poeta Hildeberto Barbosa

Por PCV Comunicação e Marketing Digital

06/06/2020 às 08:42:00 - Atualizado há

Nessa pandemia, o poeta e crítico literário Hildeberto Barbosa Filho está em casa como todo imortal. Com uma vantagem, sendo da Academia Paraibana de Letras, é imortal mesmo.

Em outubro próximo, Hildeberto fará 67, mas nem parece. Nasceu na cidade de Aroeiras e tornou-se bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal da Paraíba; tem curso de Licenciatura em Letras Clássicas e Vernáculas (UFPB); especialização em Direito Penal, pela USP e mestrado em Literatura Brasileira, pela UFPB, com dissertação, cujo tema é "Sanhauá: poesia e modernidade".

Tem vários livros escritos. Em entrevista ao Portal MaisPB, ele fala dos poemas eróticos, do Bar do Baiano no bairro dos Bancários, de sua predileção, e disse que não tem medo de morrer. Mas não é ateu. Leia e saiba mais sobre o novo colunista da Página Opinião do MaisPB.

O que está fazendo o escritor e crítico literário nessa pandemia?

O que sempre fiz e faço: lendo e escrevendo. Arrumando a Biblioteca e cuidando de meus pássaros. Até porque, e em certo sentido, para mim todo tempo é tempo de pandemia. Assim, como qualquer pessoa sensível, sinto-me como aquele personagem de Margaret Atwood, no romance "O conto da aia", isto é, com "as condições de vida reduzidas". Mas não creio que o vírus, em si, seja um mal. Organismo vivo e plenamente integrado ao sistema natural, o vírus me parece neutro. Seu grau de entropia, comparado ao do homem, deve ser muito pequeno. A peste, as epidemias, as tragédias, enfim, o mal está dentro do homem. A origem das catástrofes reside na maneira como o homem tem lidado com a natureza. Neste contexto, apenas se intensifica o cima mórbido e abafado das situações-limite, que, no fundo, são situações sempre a rondar as circunstâncias de quem aspira por um mundo melhor.

O que mais incomoda um homem estar dia e noite dentro de casa?

A mim, tudo incomoda. Não necessariamente por estar dia e noite dentro de casa. A depender da perspectiva, estar em casa me parece até um privilégio. Pensemos, por exemplo, na situação dos sem teto, que vejo como uma das muitas patologias de nossa sociedade. Como saio pouco, prefiro os sabores da rotina da casa a vagar por aí na aventura/desventura de não poder se fixar em lugar nenhum. Somos movimento, é verdade, mas a inércia e o ócio também são necessários para fermentar a criatividade. Gosto de estar em casa. O sossego do terraço, a solidão do quintal, a memória nos quartos, os paraísos na Biblioteca, tudo compõe como que aquela poética do espaço a que se refere Gaston Bachelard, inaugurando, no dia a dia, os devaneios e os sonhos indispensáveis à correnteza da vida. Afinal, como já disse num poema: "A casa é tudo".

Como anda a produção dos poemas eróticos?

Anda na fase de recolha e acabamento. Mas gostaria de lembrar que, para mim, todo poema é erótico. O poeta é aquele que, ao lidar com as palavras, exercita um cortejo de carícias no dorso dos sentidos, nas vísceras dos sons, na biologia das imagens. O ato poético é um ato de amor maior. Autor e leitor, irmanados no destino do poema, vivem uma experiência orgástica, na qual a energia cósmica e divina invade a sensibilidade e a imaginação, deslocando-os do plano ordinário da existência para a esfera mágica do êxtase. Escrever poemas é saborear uma erótica verbal cujos úmidos filamentos escorrem pela beleza das palavras.

Teremos um livro pós-pandemia?

Se sobreviver, sim. Sou mallarmeano até a medula. Para mim, tudo deve se transformar em livro. Aproveitei esses ásperos tempos elaborando um conjunto de 136 poemas a que intitulei de "O solene sabor das coisas inúteis". Penso também numa seleta de crônicas ainda a ser organizada. Também não deixo de pingar, aqui e ali, registros de um velho diário onde tento fazer o possível balancete de minhas ideias, crenças e ilusões.

É verdade que você anda com saudades do Bar de Baiano, nos Bancários, onde tem cadeira cativa e já lançou livros?

Sim. Apesar de caseiro, sou dado à boemia. Oscilo entre a norma e a transgressão. Lugares como o Bar de Baiano e a BBS (Banca Boa Sorte), ambos bem perto de minha casa, preenchem certos vazios de minha alma. São lugares de gente viva. De gente simples, comum, tributável, como diria o poeta. Gosto de conviver com essa gente. Essa gente me ensina tonalidades inesperadas da vida e, principalmente, não é dada à empáfia dos intelectuais, isto é, não prega doutrinas nem cultiva certezas eruditas. Vejo nessa gente, vezes até iletrada, mais sabedoria que em certos professores, escritores, padres, pastores e jornalistas.

Você acredita em Deus?

Sim. Não nesse Deus personificado, feito à imagem do homem. Creio, sim, numa energia divina, num elemento catalítico que dá unidade a tudo, numa espécie de alquimia cósmica que garante a primazia do sopro espiritual no umbigo de todas as coisas.

Tem medo da morte?

Não. Não acredito na morte. Acredito na ressurreição. Acredito na eternidade.

Kubitschek Pinheiro – MaisPB

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