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Agência Brasil explica: talibãs retomam poder no Afeganistão

Por PCV Comunicação e Marketing Digital

18/08/2021 às 21:30:39 - Atualizado há

Insurgentes apagam foto de mulheres em Cabul - Reuters/KYODO/Direitos Reservados

Mas apesar das imagens com milhares de pessoas reunidas no aeroporto em busca de uma oportunidade de sair do país, Brancoli avalia que a população não possui uma visão homogênea e não há uma repulsa generalizada contra os talibãs. Segundo ele, os moradores das áreas rurais são indiferentes ou apoiam o Talibã e a elite urbana não é tão numerosa.

"Tem que lembrar que o Afeganistão é um país majoritariamente rural. E nas áreas rurais, a população olhava para o governo central de forma muito desconfiada. Muitos consideravam um governo corrupto que não atendia aos seus interesses. Uma das explicações para o avanço tão rápido do Talibã seria, em parte, esse apoio da população local. Não houve grandes resistências nas partes periféricas. E quando chegou em Cabul, onde se esperava uma resistência um pouco maior, o próprio exército parecia que já tinha desistido de lutar e não tinha interesse no conflito. O presidente fugiu", pontua.

O governo de Ghani, apoiado pelos Estados Unidos, nunca teve 100% de domínio sobre o território do país e os talibãs sempre controlaram algumas áreas. De acordo com João Paulo, o cenário atual revela a incapacidade da política norte-americana de alcançar certos objetivos, o que fez com que a ocupação tenha se arrastado por mais tempo do que se esperava. "Reformularam até o sistema eleitoral do país e não conseguiram garantir uma estabilidade. Ghani tinha dificuldades de manter popularidade. E justamente por isso havia tantos soldados norte-americanos lá".

Processo de saída

Segundo João Paulo, o processo de retirada das tropas foi influenciado em alguma medida pela opinião pública nos Estados Unidos. "Os gastos militares começaram a ser mais criticados depois da crise econômica de 2008. Há um longo debate, inclusive na academia, sobre a necessidade da intervenção no Afeganistão, o que também pressionava por um plano de evacuação".

A retirada gradual das tropas norte-americanas foi pactuada no ano passado em um acordo bilateral firmado entre o então presidente Donald Trump e o Talibã. O processo deveria ser concluído até maio desse ano. O grupo afegão se comprometeu a não dar abrigo a terroristas da Al Qaeda e do Estado Islâmico.

Eleito, o presidente Joe Biden assumiu a sucessão de Trump e manteve o processo em andamento, mas alterou o prazo: prometeu encerrar a ocupação até setembro e posteriormente antecipou para agosto. À medida que as forças dos EUA deixavam o país, ocorreu um rápido avanço das forças talibãs sobre as mais diversas cidades.

A velocidade com que os talibãs retomaram o poder gera repercussões políticas nos EUA com grupos de oposição criticando a condução da saída do Afeganistão pelo governo de Joe Biden. No domingo (15), em um pronunciamento público, o secretário de Estado, Antony Blinken, recusou comparações com o fim da Guerra do Vietnã em 1975, quando rodaram o mundo cenas da cidade de Saigon em que se viam diplomatas desesperados para deixar a embaixada dos Estados Unidos diante da aproximação dos vietcongues. “Isto não é Saigon. Fomos ao Afeganistão há 20 anos com uma missão em mente: lidar com as pessoas que nos atacaram em 11 de setembro, e essa missão foi bem-sucedida", disse Blinken.

Para Brancoli, a rápida recuperação do poder pelos talibãs coloca em cheque os bilhões de dólares investidos pelos Estados Unidos no treinamento do exército afegão. "Os armamentos deixados pelos Estados Unidos vão cair nas mãos dos talibãs. Tem até uma curiosidade: eles tinham lá os Super Tucanos, que são aeronaves construídas no Brasil junto com os Estados Unidos. Agora o Talibã tem acesso a eles. Não sei se vão saber pilotar", observa.

Nessa segunda-feira (16), o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden culpou a relutância do Exército afegão em lutar contra o Talibã. Ele avaliou que nunca existiria um bom momento para retirar as tropas do país. "A verdade é: isso aconteceu mais rápido do que esperávamos. Então, o que aconteceu? Os líderes políticos do Afeganistão desistiram e fugiram do país. Os militares afegãos desistiram, às vezes sem tentar lutar", acrescentou.

O que irá acontecer daqui em diante dependerá também dos desdobramentos de geopolítica, isto é, de como os talibãs irão dialogar com o restante do mundo. "Estamos vendo algumas mudanças importantes. O grupo que foi derrubado pelos Estados Unidos há 20 anos está agora virando governo e inclusive sendo reconhecido como governo por alguns países, como é o caso da China. Durante muito tempo, nas discussões sobre a geopolítica da região, se debatia o papel dos Estados Unidos, da Rússia, da Inglaterra. Pela primeira vez, precisamos entender qual será o papel chinês e qual vai ser a política chinesa para a região. Já está claro que os chineses vão negociar com os talibãs", observa Brancoli.

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