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Em carta a Nancy Pelosi, vice-presidente rejeitou usar medida que autoriza o próprio governo a destituir o presidente Donald Trump após a invasão ao Capitólio. Mike Pence, vice-presidente dos EUA, e Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes, durante sessão do Congresso americano para certificar a vitória de Joe Biden, nesta quarta-feira (6)Saul Loeb/Pool via REUTERSO vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, enviou nesta terça-feira (12) uma carta à presidente da Câmara, Nancy Pelosi, em que rejeita invocar a 25ª Emenda para retirar Donald Trump do cargo após a invasão ao Capitólio na semana passada.Esse dispositivo legal, rejeitado por Pence, permite que o vice e o gabinete do governo destituam o presidente do cargo por incapacidade de continuar no poder. Se houver contestação, o Congresso deve aprovar a destituição por dois terços dos votos em cada casa (saiba o que é a 25ª Emenda no fim da reportagem)."Não acredito que esse caminho seja o de maior interesse da nação ao esteja consistente com nossa Constituição", afirmou Pence na carta.A carta foi divulgada no momento em que o Congresso debatia um projeto para pedir a Pence que invocasse a 25ª Emenda. Se aprovado, o texto não obrigaria o vice a tomar atitudes, mas seria mais uma pressão dos congressistas sobre Trump.Além disso, o vice-presidente pediu que Pelosi e os outros congressistas "evitem ações que possam posteriormente dividir e inflamar as paixões do momento". "Trabalhe conosco para abaixar a temperatura e unir nosso país enquanto preparamos para empossar o presidente eleito Joe Biden como novo presidente dos EUA", concluiu. A posse ocorrerá em 20 de janeiro.De acordo com a imprensa americana, Trump e Pence conversaram pela primeira vez nesta terça desde a invasão ao Congresso. Os dois concordaram que os atos de violência foram inadmissíveis. A relação entre presidente e vice se estremeceu após o episódio, principalmente porque um grupo de trumpistas chegou a pedir a morte de Pence.Novo processo de impeachmentO presidente dos EUA, Donald Trump, visita muro na fronteira dos EUA com o México em 12 de janeiro de 2021, na cidade de Ãlamo, no Texas. Alex Brandon/APA carta de Pence abre caminho para que o Congresso comece a debater e votar o impeachment de Trump, possivelmente já nesta quarta-feira. O motivo é que Pelosi deu ao vice-presidente um prazo de 24 horas para que se posicionasse sobre a invocação da 25ª Emenda.Na carta, Pence não declarou nem apoio nem rejeição ao processo que Trump deverá sofrer. Aliás, o republicano sequer mencionou diretamente o procedimento de impeachment apresentado pelos democratas.VEJA TAMBÉM: Perguntas e respostas sobre o pedido de impeachment de TrumpTrump é acusado de "incitar a insurreição" ao discursar para apoiadores momentos antes da invasão de extremistas ao Capitólio. Cinco pessoas morreram no episódio, incluindo um policial. Durante a ação, um grupo chegou a pedir a morte de Pence por não ter interferido na oficialização de Biden como presidente eleito na sessão especial no Congresso que ocorria naquela tarde.A invasão irritou políticos de renome no Partido Republicano. Por isso, a tendência é que o processo de impeachment seja aprovado na Câmara, de maioria democrata. Diferentemente do que ocorre no Brasil, o presidente não é afastado nessa etapa.No entanto, a incógnita reside no Senado. Para que perca o mandato, mais de dois terços dos senadores devem votar a favor da cassação. Os republicanos são maioria, e, segundo a imprensa americana, o líder do partido, Mitch McConnell, tem se mostrado "satisfeito" com a ideia do impeachment de Trump.O problema é que não se sabe se haverá tempo hábil para votar a cassação de Trump no Senado antes da posse de Joe Biden como novo presidente dos EUA, em 20 de janeiro. Mesmo assim, os democratas e parte dos republicanos querem prosseguir com o processo contra Trump para garantir que ele será condenado à inelegibilidade — ou seja, tirá-lo da corrida presidencial em 2024 e de outros anos subsequentes.Entenda a 25ª EmendaPresidente dos EUA, Donald Trump, e seu vice, Mike Pence REUTERS/Carlos BarriaRatificado em 1967, como reflexo do assassinato de John Kennedy, o instrumento legislativo pode ser invocado quando o presidente se mostra incapaz de desempenhar suas funções por uma doença física ou mental.Especialistas argumentam que Trump alcançou esses parâmetros e se tornou inadequado para o cargo, em episódios protagonizados após a derrota eleitoral. Entre eles, a propagação de mentiras, o desprezo pelas instituições democráticas e a tentativa de manipular funcionários públicos para reverter os resultados.A 25ª Emenda teria de ser acionada pelo vice Mike Pence, com a anuência da maioria dos membros do Gabinete de Trump. A ação é cabível de contestação por parte do presidente, em uma carta redigida ao Congresso. A remoção permanente do mandatário necessita da aprovação da maioria de dois terços do Congresso — 67 senadores e 290 representantes.VÍDEOS: invasão do Capitólio nos EUA