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Eleições nos EUA 2020: entenda a influência dos protestos antirracistas na corrida presidencial

Por PCV Comunicação e Marketing Digital

01/11/2020 às 07:47:25 - Atualizado há
O movimento Black Lives Matter roubou a atenção das campanhas eleitorais nos Estados Unidos em um ano marcado por manifestações contra a violência policial em todo o país. Especialistas ouvidos pelo G1 analisam como as ruas podem influenciar no resultado das eleições norte-americanas. O slogan "Black Lives Matter" é pintado em frente a Trump Tower, na Quinta Avenida, em Nova, York

Mark Lennihan/AP

Os protestos antirracistas nos Estados Unidos estiveram em destaque durante toda a campanha presidencial. Enquanto Donald Trump defendeu uma plataforma de lei e ordem, seu adversário, Joe Biden, reforçou a agenda democrata sobre igualdade racial – e indicou uma mulher negra, Kamala Harris, como vice em sua chapa.

Um levantamento feito pelo instituto de pesquisa Pew Research Center, dos EUA, estima que cerca de 30 milhões de afro-americanos poderão votar nas eleições de 2020. O número é um recorde no país, onde o voto não é obrigatório, e representa cerca de 12,5% de todo o eleitorado.

Tradicionalmente, os negros americanos votam em candidatos democratas. Eles foram votos-chave, por exemplo, na reeleição de Barack Obama, em 2012. Nas últimas eleições, no entanto, com a menor participação dos últimos 20 anos, contribuíram para a derrota de Hillary Clinton.

Voto dos negros é importante para a vitória do candidato do partido democrata

Onda de protestos

Os Estados Unidos viveram, a partir de maio, uma onda de protestos antirracistas e contra a violência policial, liderados pelo movimento Black Lives Matter (vidas negras importam, do inglês). O estopim foi o caso de George Floyd, um ex-segurança negro que foi morto durante uma abordagem policial.

Alguns desses atos terminaram em episódios de violência com confrontos e saques. O mais recente aconteceu na Filadélfia, maior cidade da Pensilvânia, após a morte de um homem negro em uma ação policial. Muitos manifestantes acusam a polícia de racismo e brutalidade.

Sandra Cohen: Por que conquistar a Pensilvânia é tão crucial para Trump e Biden?

Durante um comício em Las Vegas, o presidente Donald Trump, que se coloca como o candidato da lei e da ordem, acusou o prefeito da Filadélfia – que é do Partido Democrata – de permitir que vândalos destruam a cidade.

Os candidatos democratas Biden e Harris tentam, a todo momento, se distanciar das manifestações violentas, sem deslegitimar o movimento antirracista. Em um recente comunicado de campanha, pediram por "protestos pacíficos" na Filadélfia.

Vídeo mostra momento em que negro com problemas mentais é morto por policias nos EUA

'Vantagem democrata'

A professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Cristina Pecequilo explicou em entrevista ao G1 que a influência do movimento Black Lives Matter pode até dar vantagem aos democratas, mas seus resultados nas eleições têm efeito ambíguo.

Segundo ela, o movimento reforça a aproximação já existente entre o Partido Democrata e as pautas relativas à igualdade e inclusão racial. No entanto, há uma pressão sobre os democratas na medida em que a oposição procura associar os protestos a episódios de radicalização política e violência.

Já o professor Ryan Muldoon, que ensina ciência política na Universidade de Buffalo, em Nova York, disse ao G1 ser difícil dizer com toda a certeza que os protestos possam, sozinhos, garantir a vitória democrata.

"Donald Trump foi um presidente impopular. As pesquisas sugerem que este é um ano favorável para os democratas, isso porque ele [Trump] passou por um processo de impeachment, uma pandemia, e nossa economia foi duramente atingida", disse Muldoon.

O americano lembra que os protestos do Black Lives Matter (BLM) existem há anos, e já fazem parte da política do país. Ele disse "esperar para ver" o quanto das promessas de campanha dos democratas –que abraçaram a plataforma do BLM – vão se transformar em mudanças reais na legislação.

Manifestantes seguram cartazes com a frase 'black lives matter' (em português, 'vidas negras importam') em frente ao Capitólio, em Washington DC

Jose Luis Magana/AFP

Mulher e negra

O candidato do Partido Democrata à Presidência dos EUA, Joe Biden, escolheu como companheira de chapa a senadora Kamala Harris, de 55 anos. Caso vençam Donald Trump nas eleições de novembro, ela será a primeira mulher eleita a ocupar o cargo de vice-presidente dos Estados Unidos.

A escolha de Harris foi a confirmação da promessa de Biden em ter uma mulher como candidata a vice. A pressão por uma mulher negra, como a senadora da Califórnia, só aumentou após os protestos contra o racismo nos EUA.

Pecequilo, que reconhece a candidata como um "nome forte" do partido, explicou que a senadora é criticada por todos os lados do espectro político. À esquerda, dizem que ela é conservadora demais, à direita, que é liberal demais.

Senadora Kamala Harris discursa no terceiro dia da Convenção Nacional Democrata

Convenção Nacional Democrata/Pool/Reuters

"A indicação de Kamala Harris a vice, assim como antes dela de Barack Obama à presidência, é representativa em diversos níveis", disse a pesquisadora da Unifesp. "Por ser mulher, por ser negra, e identificada com os movimentos sociais do Partido Democrata."

"Ter Harris como vice-presidente é uma vitória para uma maior representatividade", disse Muldoon.

O professor de ciência política em Buffalo, no entanto, disse que Harris é uma figura controversa até mesmo dentro do movimento negro dos EUA. Isso porque sua carreira anterior como promotora de Justiça a marcou, para alguns, como parte de um sistema injusto.

Ajuda de Obama

Biden esteve ao lado de Barack Obama, como vice-presidente, durante seus dois mandatos. Agora, ele conta com a ajuda de um dos ex-presidentes mais populares dos EUA para aumentar sua vantagem entre a população não-branca.

Obama tenta angariar votos em estados-chave em diversos comícios em apoio ao democrata.

"Os EUA vêm sofrendo importantes transformações sociais, políticas e culturais, que indicam o crescimento das populações negra, latina, asiática, e também miscigenada, como maioria populacional", disse a professora da Unifesp.

Ela explicou que essa mudança garantiu uma renovação de pautas e da agenda política norte-americana, o que permitiu, por exemplo, a chegada de Obama ao poder. No entanto, ela ressaltou que, ao mesmo tempo em que há um movimento progressista, há uma resposta conservadora.

Obama discursa em comício da campanha de Joe Biden, na Filadélfia

Kevin Lamarque/Reuters

"Estamos diante de uma sociedade cada vez mais polarizada, e a reação conservadora tem sido bastante forte", disse Pecequilo. "Mesmo sendo minoritária, parcelas desta população conservadora conseguem mobilização suficiente para levar o seu candidato ao poder com a votação indireta."

Muldoon relembra que houve uma reação conservadora contra Obama no final de seu mandato, quando ele perdeu o apoio do Senado e da Câmara. Como consequência, não conseguiu emplacar sua sucessora.

Mas o professor de ciência política explicou que, desde 2018, tem havido uma onda na outra direção, desta vez contrária a Trump.

Supremacistas brancos

O presidente dos EUA teve dificuldade em condenar, durante seu primeiro debate, a ação de grupos supremacistas brancos no país. Eles se colocam contrários às pautas do movimento BLM e muitas vezes participam das manifestações, inclusive armados.

Foi o caso de um adolescente preso depois que matou duas pessoas durante um protesto contra a violência policial em Kenosha, no Wisconsin. Ele dizia ter ido até a cidade para "proteger as pessoas" e chegou a receber apoio da polícia local, antes de disparar os tiros.

"A postura contraditória de Trump visa, justamente, manter a sua base intacta, que depende desta mobilização e polarização", disse Pecequilo.

Ela explica que, no atual cenário eleitoral – afetado pela pandemia e com uma crise econômica sem precedentes –, essa é uma base essencial para sua eleição.

Eleitor de Donald Trump veste camiseta com a frase "Proud Boys não fizeram nada errado". Proud Boys é como se auto intitula um grupo supremacista branco nos EUA

Chandan Khanna/AFP

No entanto, ela avalia que a movimentação de Trump é arriscada e, ao não condenar a violência destes grupos supremacistas, o presidente dos EUA pode perder a confiança de grupos conservadores moderados, que estiveram com ele nas eleições passadas.

Muldoon relembra que, em 2016, Trump venceu ao conseguir aumentar a participação dos eleitores brancos com uma campanha estruturada em torno do medo de imigrantes e do aumento da igualdade racial.

"A 'ameaça do status' foi a principal razão para explicar a maior participação branca nos votos", disse o professor de ciência política. "As pessoas estavam preocupadas se sua posição na sociedade poderia estar sob ameaça."

VÍDEOS: Eleições nos EUA 2020

Fonte: G1
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