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Foram mais de 25 mil denúncias em todo o país entre março e junho deste ano, segundo números do Disque 100, do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. Dados foram obtidos via Lei de Acesso à Informação. Denúncias de violência contra idosos cresceram 59% durante a pandemia, no BrasilO número de denúncias de violência e de maus tratos contra os idosos cresceu 59% no Brasil durante a pandemia do novo coronavírus. Entre março e junho deste ano, foram 25.533 denúncias. No mesmo período de 2019, foram 16.039.Infecção por outros coronavírus pode piorar resposta de idosos à Covid-19, sugere estudoMorte da Covid-19 entre idosos em instituições de longa permanência representa 80% dos casos nos países mais ricos, alerta OMSOs dados são do Disque 100, plataforma do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos (MMFDH), obtidos com exclusividade pela Globonews por meio da Lei de Acesso à Informação.Denúncias de violência contra o idosoG1O estado com maior número de denúncias no período analisado foi São Paulo, que teve 5.934 casos reportados, o que representa 23% do total do país. Em seguida, estão Rio de Janeiro, com 3.743 denúncias, e Minas Gerais, com 3.595.A dona Joana* (nome fictício), de 77 anos, mora em São Paulo e é uma das vítimas desse tipo de violência. "Meu filho e meu marido me xingam, me mandam calar a boca. Ontem mesmo eu esqueci um pano sujo em cima da cadeira, porque eu estava limpando, e gritaram tanto comigo que meu coração está doendo até agora", disse a vítima.A idosa afirma nunca ter denunciado os agressores. "Já ameacei sair de casa, mas acontece há tanto tempo, que eu sei que só vai parar quando um de nós morrer primeiro".O presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Carlos André Uehara, afirma que, mesmo com o aumento, ainda existe muita subnotificação dos casos, como é o exemplo de Joana. Idosos são um dos principais grupos de risco para a Covid-19Susana Vera/Reuters"O idoso pode decidir se quer ou não fazer a denúncia, e não é raro encontrar um idoso que fala que prefere ser violentado pelo filho do que vê-lo na prisão", explica. O médico geriatra também ressalta que, muitas vezes, o idoso não reconhece que existe uma violência sendo cometida contra ele. "É um tipo de relacionamento abusivo", diz Uehara.O estado que apresentou maior crescimento no número de denúncias entre 2019 e 2020 foi o Tocantins. Tinham sido 43 denúncias entre março e junho do ano passado, contra 106 neste ano — um aumento de 147%. Outros estados com aumento mais expressivo de denúncias entre os dois anos foram o Rio de Janeiro (+88%), o Pará (+83%), o Distrito Federal (+82%) e o Rio Grande do Norte (+81%).Além da dificuldade em denunciar, o presidente da SBGG afirma que outro desafio é o reconhecimento do problema por profissionais de saúde. "O médico, enfermeiro ou assistente social que atende aquele idoso acaba não identificando a violência. Existe o costume de procurar marcas pelo corpo de violência física, e a violência emocional passa despercebida", diz Uehara.Segundo a Promotora do Idoso do Ministério Público de São Paulo Cláudia Maria Beré, a maioria dos casos de violência contra o idoso são de negligência — quando o cuidador do idoso não presta assistência ao idoso, ou presta assistência insuficiente — e de violência psicológica. "É muito comum a violência por meio de ofensas morais, ficar diminuindo o valor do idoso, falando que ele não serve para nada, que só dá trabalho", explica a promotora. A violência contra o idoso é crime que pode ter pena de seis meses a um ano de reclusão, além de multa. Mas, quando o caso não vai para a área criminal, outros caminhos são possíveis. "Mediação, aconselhamento e encaminhamento do agressor para um atendimento psicológico são algumas das opções quando a pessoa denuncia para um órgão como o Disque 100, por exemplo", explica Beré. "Alguém vai fazer um acompanhamento da dinâmica daquela família. Muitas vezes é preciso esse olhar de fora, porque o familiar não percebe que está cometendo violência. É um comportamento diário, muitas vezes já visto como algo comum", afirma a promotora.Canais de denúnciaEm nota, o MMFDH afirma que "ampliou seus canais de recepção das denúncias de forma a alcançar o maior número de usuários. Como exemplos, podemos citar: site, aplicativo, chat, Telegram e vídeo-chamada". Nesta quinta-feira (29), acontece o evento de lançamento do WhatsApp do Disque 100 e do Ligue 180 da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos. Segundo a nota do Ministério, o canal servirá "para receber atendimento ou realizar uma denúncia por esta nova via, o idoso ou qualquer cidadão deve enviar uma mensagem para o número (61) 99656-5008".Ainda de acordo com a pasta, após a mensagem, haverá uma resposta automática, e o idoso "será atendido por uma pessoa da equipe da central única dos serviços. A denúncia recebida será analisada e encaminhada aos órgãos de proteção, defesa e responsabilização em direitos humanos. O denunciante, querendo, pode solicitar o anonimato".Vídeos: novidades sobre a vacina contra a Covid-19