Paraíba

Mais de 100 anos antes da Covid-19, Paraíba enfrentava pandemia da Gripe Espanhola

Por PCV Comunicação e Marketing Digital

08/08/2020 às 15:00:16 - Atualizado há
Doença causada pelo vírus influenza chegou à capital paraibana em trens e navios. Historiador paraibano afirma que doença infectou pelo menos 5,4 mil paraibanos em 1918. O jornal que mais trouxe denúncias e problemas sobre a Gripe Espanhola na Paraíba pertencia à Igreja Católica

Azemar Júnior/Arquivo Pessoal

Jornais e documentos do início do Século XX mostram que o novo coronavírus não foi o primeiro responsável por uma pandemia que aportou na Paraíba e acometeu milhares de paraibanos. Mais de um século antes de março de 2020, mês do primeiro caso oficial da Covid-19 no estado, em meados de outubro de 1918, chegava à Paraíba por meio das linhas férreas pernambucanas e dos navios que atracavam ao antigo Porto do Capim o influenza H1N1, o vírus da Gripe Espanhola.

Embora o lapso de mais de 100 anos reserve inúmeras distinções, muito do que foi vivido pelos paraibanos com a gripe vinda da Espanha tem sido revivido, de certa maneira, pela população com o dito vírus chinês. O negacionismo perante a gravidade da disseminação da doença, a politização do vírus e até mesmo a profusão de remédios milagrosos, quase mágicos, são alguma das semelhanças que abrem uma fenda no tempo e ligam os dois períodos.

Parecidos nos reflexos sociais, impossíveis de comparar em letalidade. A sofisticação dos mecanismos de monitoramento do coronavírus a partir de todos os dispositivos tecnológicos a serviço da medicina e da própria sociedade permite um retrato, senão fiel, mas muito aproximado em número de casos e mortes decorrentes da Covid-19. Quase 90 mil pessoas contraíram o coronavírus e outras quase 2 mil perderam a vida por conta do Sars-Cov-2 na Paraíba até este 8 de agosto.

Sem uma ferramenta que ajudasse a computar dados, esbarrando na falta de capacidade técnica do poder público, até mesmo de interesse dos governantes em omitir a realidade, os casos de infectados e mortos pela influenza espanhola, causada pelo vírus H1N1, na Paraíba se perderam no tempo em grande parte. O mais perto de um número oficial de doentes da "espanhola" no estado foi alcançado pelo professor paraibano Azemar dos Santos Soares Júnior, docente do curso de história na Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

"Não é possível fazer um levantamento do número de infectados, nem do número de mortos. Acredito que devido à necessidade do governo de Camilo de Holanda não publicar as diversas falhas na adoção de medidas contra a epidemia, bem como, o baixo número de profissionais médicos, esses dados não foram publicados. Soma-se a isso, o alto índice de pessoas infectadas, fazendo com que o registro do número de enfermos não fosse mais possível de ser anotado e acompanhado", comentou Azemar.

Na pesquisa feita por Azemar Júnior, somando os relatos feitos no jornal A Imprensa, que na época era o veículo oficial de informação da Igreja Católica na Paraíba, o estado chegou a ter oficialmente pelo menos 5.479 pessoas acometidas pela influenza espanhola. A estatística foi alcançada a partir da coleta de nomes nas listas feitas pela Arquidiocese da Paraíba de pessoas pobres que precisavam de auxílio por estarem com a gripe espanhola.

Gripe espanhola, maior pandemia do século 20, matou 50 milhões de pessoas no mundo todo

Não há um número preciso de mortes na Paraíba, no Brasil estima-se que pelo menos 35 mil pessoas morrem por conta do vírus influenza H1N1. Embora uma estimativa seja impossível de ser feita nesta altura, o professor Azemar dos Santos Soares Júnior explica que na época os cemitérios da capital paraibana passaram por transtornos para lidar com o aumento momentâneo de mortos.

"Quanto às mortes, me deparei com poucas notícias sobre os enterramentos realizados no Cemitério Senhor da Boa Sentença: nos dias 9, 11 e 23 de novembro [de 1918] foram sepultadas 48 pessoas vítimas de influenza espanhola", explica o professor.

O empobrecimento da população, que assolava a sociedade paraibana na época em sua maioria, e a falta de instrução, de educação, agravadas pela dificuldade da circulação das informações, prejudicaram a adoção de medidas preventivas básicas. Recomendações como redobrar os cuidados com a higiene pessoal ou o uso de máscaras, circulavam em menor quantidade na Parahyba de 1918.

"Não há relatos de uso de máscaras. O que circulavam nos jornais eram anúncios de medicamentos que salvariam até a alma do doente! Os xaropes ganharam as páginas dos jornais e revistas. Fórmulas milagrosas eram oferecidas e vendidas nas farmácias mais próximas. Não tivemos relatos de resistência ao uso de máscaras, ao menos não foi publicado na imprensa. O difícil era, como é em 2020, manter a população dentro de casa", explicou.

Qualquer semelhança com a nossa pandemia contemporânea não é mera coincidência. A propaganda de fármacos usados em outras doenças, desde malária ao tratamento de verminoses, inclusive partindo de prescrição médica, substâncias sem eficácia comprovada contra o coronavírus, é a versão atual das fórmulas milagrosas para uma doença que ainda se sabe pouco.

O secretário executivo de Gestão da Rede de Unidades de Saúde da Secretaria de Estado de Saúde da Paraíba, Daniel Beltrammi, comenta que o curandeirismo, como pode ser chamada a prática de administrar substância sem qualquer certeza científica de eficácia, faz com que as pessoas no mais absoluto desespero tentem lançar mão de saídas, especialmente saídas mais cômodas e mais fáceis em períodos de pandemia.

A Gripe espanhola obrigou que as pessoas adotassem o uso de máscaras, assim como acontece na pandemia do novo coronavírus

Reprodução/TV Globo

"Os emplastros, as soluções, as medidas "coca-cola", porque a Coca-Cola também chegou a ser na história um emplastro, as balas de prata, as soluções definitivas, a salvação da lavoura, isso é muito natural da espécie humana especialmente quando ela se encontra emparedada tentando sobreviver a mecanismos de seleção natural, como por exemplo quando um microorganismo se apresente como se apresenta o coronavírus", explica.

Curiosamente, nos dois períodos os governantes adotaram planos de emergência com ações semelhantes. A política de isolamento social, tão criticada durante a pandemia do novo coronavírus, foi uma das medidas implementadas na Paraíba, de acordo com o professor de história da UFRN.

Na Paraíba, durante a Gripe Espanhola, era realizado o registro do doente pelos funcionários médicos ou fiscais da saúde. À época pelo Serviço de Higiene a primeira etapa foi a convocação de mais médicos, farmacêuticos e enfermeiros para travar guerra contra a epidemia.

A segunda etapa consistiu em orientar a população a ficar em casa evitando sair às ruas sob a vigilância de um fiscal que todos os dias era responsável por passar na frente das casas e exigir que as pessoas se apresentassem na janela, realizando a conferência de cada um dos moradores.

Em caso de algum membro da família não aparecer, significava que estava doente ou mesmo morto, fazendo com que esses fossem levados para o isolamento hospitalar ou para o cemitério. Essa fiscalização deveria acontecer de forma diária. Todos os dias os fiscais eram responsáveis por fazer as anotações e entregar ao Serviço de Higiene em forma de relatório. Por fim, a orientação de que as casas deveriam ser desinfetadas.

"Esse modelo [de isolamento social] é bastante antigo, pois foi criado na Idade Média e faz parte da configuração da medicina urbana, tanto que era ainda no começo do vigésimo século se adequando à realidade de casa, cidade ou estado. No documento, essas foram as medidas adotadas, porém na capital, faltavam médicos, farmacêuticos ou mesmo fiscais contratados", conta Azemar Júnior.

A população da capital paraibana no período girava em torno de 52 mil habitantes, fato que dificultava ainda mais esse trabalho previsto no plano emergencial pensado pelos gestores públicos da época. A população de rua era muito grande e havia um fluxo intenso de pessoas indo e voltando do interior do estado, outras dinâmicas sociais que aumentavam ainda mais a gravidade do problema.

O historiador explicou que há registro de que lojas foram fechadas, não porque o comércio foi obrigado a baixar suas portas, mas porque seus funcionários adoeceram não tendo assim condições de manter o funcionamento ativo. Dessa forma, ficou claro que a circulação de pessoas intensificava a propagação da doença.

Anúncios de remédios para os sintomas da Gripe Espanhola eram comuns nos jornais da época da Paraíba

Azemar Júnior/Arquivo Pessoal

O poder público na Paraíba fechou, em outubro de 1918, a biblioteca pública e suspendeu as aulas nas escolas da capital paraibana. As igrejas católicas e protestantes foram submetidas a uma espécie de quarentena: os atos religiosos só poderiam acontecer pela manhã e não podiam ser demorados. Os templos deveriam ser desinfetados diariamente como medida sanitária.

As festas dos padroeiros, tradicionais no estado, no interior sobretudo, também foram proibidas no período. "Assim também aconteceu com quaisquer formas de aglomeração de pessoas: espaços de diversões como teatros, jogos de 'foot-ball', encontros de sociedades recreativas, etc. Em caso de desobediência, cabia a Chefatura de Polícia aplicar a lei. As escolas privadas também fecharam suas portas: o Colégio Pio X, por exemplo, adiantou o encerramento do ano letivo para o mês de outubro como medida profilática contra a influenza", relata Azemar Júnior.

A influenza, assim como o coronavírus, perdurou por meses afetando a dinâmica social na Parahyba, se interiorizou com o passar do tempo, movimento semelhante ao que ocorre com o Sars-Cov-2 atualmente. Os registros feitos pelo professor Azemar Júnior indicam que após a chegada no fim do mês de setembro de 1918 na capital paraibana, a Gripe Espanhola só viria a ser noticiada como deixando o estado em fevereiro de 1919, na notícia de curados da doença na cidade de Catolé do Rocha, a 411 km de João Pessoa.

"É possível afirmar que na capital a epidemia irrompeu no mês de outubro e declinou em dezembro. Os últimos registros da influenza espanhola no estado se deu no ano de 1919. Após ser considerada vencida na capital do estado, a doença ganhou outras geografias chegando a cidades do interior e alto sertão paraibano", explicou o professor da UFRN.

A Covid-19 aportou na Paraíba em março e desde então, já se vão cinco meses de reflexos da doença na economia, na rotina, nas relações pessoais no estado. Um estudo feito pelo grupo de pesquisa Observatório de Síndromes Respiratórias da UFPB, publicado em julho, tomando como base os números da doença até 11 de julho, indicava que a pandemia deveria chegar ao fim na Paraíba em setembro, mais precisamente no final do mês.

Enquanto o fim não chega, os casos interiorizam e as pessoas parecem ter perdido o medo do vírus que matou mais de 100 mil brasileiros, quase dois mil paraibanos. A flexibilização da maioria das atividades econômicas, a resistência ao uso da máscara da forma adequada e a queda dos índices de isolamento social na Paraíba, com média de 37,7% de acordo com a plataforma In Loco, são indícios, pistas, de que se a pandemia do novo coronavírus não chegar ao fim com o cessar de casos confirmados, deve chegar ao fim enquanto problema social do imaginário coletivo.

O coronavírus caminha para se igualar ao influenza, não em número de mortos ou de casos, mas em nível de relação das pessoas com vírus. Assim como o vírus da Gripe Espanhola, que segue acometendo milhares de pessoas apesar da campanha de vacinação anual pelas autoridades de saúde no Brasil, os paraibanos se mostram dispostos a conviver com o coronavírus.

Letalidades

O médico e infectologista, diretor do Hospital Clementino Fraga, referência no tratamento da Covid-19 em João Pessoa, Fernando Chagas, explica que se o coronavírus tivesse chegado à Paraíba no início do Século XX, provavelmente haveria a dizimação de uma parte relevante da população paraibana.

O influenza vírus da gripe espanhola tem uma letalidade considerável, embora muito menor que o Sars-Cov-2. A letalidade do H1N1, família do influenza, pode chegar a 1%, entre 0,6% a 1%, enquanto a do Sars-Cov-2, a depender do país, pode chegar a 4%, 6% do total, de acordo com Fernando Chagas. Outra característica do influenza é de que é um vírus que tem uma capacidade de transmissão menor do que o Sars-Cov-2, mas que é transmitido pela mesma via, que é a respiratória e do toque.

Conheça semelhanças entre a gripe espanhola e a pandemia de Covid-19

"Naquele período [da Gripe Espanhola] os cuidados com a higiene pessoal eram muito precários, a situação sanitária da população era muito precária. Era mais fácil o contágio por conta disso, por conta dessa fragilidade. E quando alguém adoecia, não existia o suporte que nós temos hoje, com medicamentos, com hidratação, leito de UTI, portanto pegar um vírus desse, se a pessoa tivesse comorbidades, era praticamente uma sentença de morte", comenta o infectologista.

Ele ressalta que a Covid-19 naquela época devastaria cinco ou seis vezes mais do que a gripe espanhola. "Você imagina 5% da população exposta evoluindo para morte, aliás, a gente considera que sem UTI, esse percentual aumenta substancialmente, então você imagina 10%, até 15% dependendo das populações, das pessoas que adoecem evoluindo para a morte. É um valor absurdo", explica o infectologista.

O crescimento exponencial de casos, como por exemplo em uma casa com cinco pessoas doentes ao mesmo tempo evoluindo para uma forma grave e somente uma pessoa cuidando, não teria condições de dar conta dos cinco ao mesmo tempo. O médico ou o cuidador teria que escolher um ou dois para dar uma assistência maior, praticamente selando o destino dos demais em estado grave.

Fernando Chagas reafirma que a "grande característica da Covid-19 é a capacidade que ela tem de adoecer todos ao mesmo tempo, colocar todo mundo na fila da UTI ou de levar, naquela época, todo mundo a óbito. Acredito que teriam até problemas com o que fazer com tantos corpos".

Doença de pobres

Embora hajam intersecções entre as duas pandemias, fatos em comum, há uma outra série de distinções. A Gripe Espanhola teve seu início em uma camada social diferente da Covid-19 na Paraíba. Enquanto a doença causada pelo coronavírus atinge em um primeiro momento pessoas com melhores condições financeiras, o influenza acometeu em sua maioria pessoas das classes sociais menos favorecidas.

O reflexo dessa diferença pode ser visto nos registros dos jornais do início do Século XX, quando tratavam a "espanhola" como uma doença de pobres e para pobres. Porém, vários foram os casos também entre os mais ricos, é o que ressalta o professor Azemar Júnior.

"Não quer dizer que os ricos não foram infectados, apenas que devido ao fato de a população carente estar mais vulnerável, por ser a população que tinha que sair para trabalhar todos os dias em fábricas, no comércio, nas repartições públicas, ou mesmo a perambular pelas ruas, acabaram por se infectar", explica.

Na cidade de Parahyba, como era chamada a capital do estado, os bairros de Jaguaribe e as localidades de Bombardeio e Barreiras registravam os maiores quantitativos de doentes pelo vírus influenza. O antigo centro comercial, localizado no Varadouro, também foi violentamente atacado, de acordo com o professor da UFRN, sobretudo por ser a porta de entrada da cidade, seja pelo porto ou pela estação de trens da Great Western.

Jornais da época reportavam os comportamentos de isolamento social da Paraíba do início do Século XX

Azemar Júnior/Arquivo Pessoal

As pessoas mais pobres estavam muito mais suscetíveis aos vírus porque as condições de higiene da população eram bastante precárias, de acordo com o pesquisador. Além desse problema, o estado também carecia de hospitais de qualidade, de equipamentos que pudessem ajudar no tratamento dos doentes "influenzados", a demanda acabou se tornando muito alta e os médicos não tinham como cuidar de todos os enfermos.

"Há registros nos jornais de que o Serviço de Higiene padecia à míngua de atenção dos poderes públicos. Faltavam médicos e demais profissionais da saúde. Os poucos hospitais que existiam na capital não foram suficientes para as demandas. Primeiro porque eles atendiam a princípio as pessoas mais ricas", comentou o professor paraibano Azemar Júnior da UFRN.

Ele reforça que não houve registros da criação de hospitais de campanha no período da Gripe Espanhola, método adotado para tratar a Covid-19 e reforçar o número de leitos. O professor da UFRN e autor do livro Corpos Hígidos, que traz a história das doenças na Paraíba entre 1912 e 1924, Azemar Júnior relata que a principal medida adotada pelo poder público foi a distribuição de medicamentos.

O governo em 1918 e 1919 autorizou que farmácias distribuíssem aos doentes medicamentos responsáveis por amenizar os sintomas da doença. "Os jornais publicavam listas de farmácias que faziam esse serviço pago pelo governo estadual. Não encontrei registros de pessoas mortas nas ruas, mas encontrei notícias de mendigos e retirantes que vagavam pelas ruas doentes da gripe", comentou.

Políticas por trás do vírus

Como se não bastassem os efeitos do coronavírus nas políticas de saúde, as consequências naturais de uma pandemia, o Brasil tem passado por um debate político, ideologizado, em torno do coronavírus. O secretário executivo de Gestão da Rede de Unidades de Saúde da Secretaria de Estado de Saúde da Paraíba, Daniel Beltrammi, comenta que o combate ao vírus neste momento reserva uma série de desafios.

Além da dificuldade imposta pelo alto grau de desigualdade social existente no Brasil, que aguda a crise entre os mais vulneráveis, como por exemplo, a taxa de letalidade do coronavírus na Paraíba é muito maior entre pessoas pardas, os gestores públicos da área de saúde enfrentam um cenário de descoordenação política por questões ideológicas.

"Enfrentamos especialmente nos meses de março e de abril, e depois a subsequente negação, um ritmo de negacionismo da maior crise que o Brasil já enfrentou que não é só de ordem sanitária, de um nível federal de combate à crise, também traz um desafio para um cenário. Organizar resposta à Covid-19 neste ambiente de fatores sociais, econômicos e políticos representa um desafio difícil de ser superado e nunca antes experimentado no país", avaliou Beltrammi.

Na época da Gripe Espanhola houve uma situação parecida entre os governantes. Na Paraíba, por exemplo, no período em que esteve sob o comando de Camilo de Holanda, fez circular nos principais jornais do estado a ideia de que a doença, inicialmente, era benigna. De acordo com o pesquisador e professor da UFRN, Azemar Júnior, a narrativa construída na época foi de que apesar do alto número de infectados, ela tinha baixa mortalidade.

"Essa característica ficou registrada apenas nos jornais. A realidade parecia ser outra: o quantitativo de doentes crescia dia a dia nos meses de outubro e novembro de 1918", afirmou o professor.

Na época da Gripe Espanhola as atualizações sobre a doença só eram possíveis a partir dos jornais, que divergiam na abordagem a partir dos interesses por trás das linhas editoriais, segundo explica Azemar Júnior. O jornal do estado tratava de esclarecer que o governo estava fazendo tudo que podia, enquanto o jornal da Arquidiocese da Paraíba, que se opunha ao governo na época, atacava as medidas por meio de seu periódico.

"Diariamente, os jornais em circulação na capital como "A Imprensa", "O Norte" e "A União" atuaram fortemente na divulgação de saberes e denúncias. Enquanto A União divulgava as medidas tomadas pelo governo, o jornal "A Imprensa" que pertencia a Diocese da Paraíba divulgava fortes críticas à gestão de Camilo de Holanda, acusando-o de não tomar as devidas providências sanitárias sobretudo a população pobre, bem como, tratou de publicar em suas páginas as medidas de ajuda aos 'influenzados' pobres da Capital", comentou o professor e pesquisador.

Na pandemia da Covid-19 a sociedade vive a era da informação, com dispositivos eletrônicos móveis com acesso à internet e consequentemente a uma gama de informações em tempo real. Porém, com tanta oferta de informação, as pessoas ainda se encontram confusas, ou desinformadas a respeito de como lidar com a pandemia.

"Com a informação na palma da mão, resta saber se a informação é útil, se é de caráter civilizatório e do interesse da nação, ou se é uma informação desprovida de compromisso com a realidade, de baixo nível de utilidade para o real impacto social. Neste contexto, preocupa. Porque mesmo a comunidade especializada, como a dos profissionais de saúde, por vezes abandonam as principais premissas da ciência para se fiar, se suportar, inclusive na decisão do que recomendar aos seus pacientes", explicou Beltrammi.

A crítica do secretário da SES é pertinente e retoma a discussão da ineficácia de fármacos prescritos por médicos com base na crença de que haja algum efeito, sem respaldo científico para a prescrição.

"Não há outro antídoto para esse eventuais comportamentos oportunistas do que a boa prática da política pública de saúde, do que a proteção do maior e melhor interesse público e acima de tudo transparência e disponibilidade ao diálogo", comenta.

Enquanto as vacinas ainda não são liberadas para comercialização e uso em larga escala na população, em meio a tantas incertezas sobre os rumos da doença que já matou 100 mil brasileiros em pouco mais de cinco meses, Daniel Beltrammi, que tem atuado na linha de frente do combate ao vírus na Paraíba, alerta que o momento é de cautela, de aceitar que muito pouco ainda se sabe dessa doença.

"É preciso humildade, há muito o que se aprender e pouco foi consolidado. Há muito tempo o brasileiro perdeu o senso de coletividade, é preciso resgatar o espírito de nação, e uma crise sanitária pode, sim, ter um caminho para isso, tem este aprendizado. O outro importa, a atitude do outro importa", concluiu o secretário.
Fonte: G1/PB
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