Uma das mais belas tradicões!

A ORIGEM DO PASTORIL DE NATAL EM CONCEIÇÃO. Um relato de Fidelis Mangueira

O Pastoril de Natal faz parte da história cultural e religiosa de Conceição e precisa ser resgatada!

Por Francisco Fidelis Mangueira Gomes

15/03/2021 às 09:40:17 - Atualizado há

A ORIGEM DO PASTORIL DE NATAL EM CONCEIÇÃO

O Pastoril foi trazido para a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição pelo Padre José Raimundo de Sousa Neto, in memoriam no inicio dos anos 60. Inicialmente o Pastoril era apresentando no patamar da Igreja Matriz, antes da Missa do Natal, no dia 24 de dezembro, antes da missa da virada do ano, no dia 31 de dezembro e no dia 06 de janeiro, Dia dos Santos Reis.

Naquela época todas as famílias se deslocavam para a Praça da Matriz para se confraternizarem, e prestigiar o Pastoril como forma de louvar a chegada do Menino Jesus. Em alguma ocasiões acontecia-se os leilões de frangos, garrotes, perus, em prol do cordão azul ou encarnado. Era comum ver as pastorinhas correndo pelas praças e ruas pedindo doações para seu cordões.

Como as jornadas aconteciam num intervalo de quase 7 dias, as pastorinhas passavam dias juntando seus trocados para erguer a bandeira do seu partido. As jornadas sendo assim elas não se cansavam tanto e tinha mais tempo para arrecadar mais dinheiro para eleger suas rainhas.

Com a saída do Padre José Raimundo de Sousa Neto da Paróquia de Conceição, vieram para a Paróquia padres estrangeiros, creio que alemães e poloneses, mas mesmo assim a tradição do pastoril se manteve, mas não com tanta intensidade como era com o Padre José Raimundo de Sousa Neto.

Com a saída dos padres alemães e poloneses, chegou a Paróquia de Conceição o Frei Antônio Azevedo, e com ele o pastoril se reanimou, mas sempre ocorrendo no dia 24 e 31 de dezembro e no dia 6 de janeiro, já que se trata uma louvação ao nascimento de Jesus.

Com a saída do Frei Antônio Azevedo, chegou a Paróquia o Padre José Alves de Sousa, que também continuou a tradição do pastoril, porém nos anos seguintes, como não se tinha como dinamizar culturalmente a Festa da Padroeira, que acontece no período do Advento, de 28 de novembro a 08 de dezembro, o Pastoril passou a integrar a programação da Festa da Padroeira, acontecendo cada noite após as novenas.

Do meu ponto de vista, por o pastoril se tratar de uma dança, com louvações natalinas, não deve acontecer antes do Natal, no período do Advento, devendo se restringir sua realização ao período entre o dia 24 de dezembro a 06 de janeiro, respeitando-se assim o tempo litúrgico da Igreja.

Não vejo muito sentido dentro das igreja está se falando da vinda do Salvador e fora da Igreja já está gritando com cantos e danças a vinda do Menino Jesus. Creio que o Pastoril é uma dança estritamente natalina e não do tempo do advento.

Temos inúmeras formas de animar e dinamizar a Festa de um padroeiro, com festivais, danças, shows religiosos, etc, mas é sempre bom respeitar o tempo litúrgico implantado pela Santa Igreja.

Já se deu para perceber que a minha sugestão é que voltemos a tradição mais antiga de realizar o nosso lindo pastoril natalino nos dias 24 e 31 de dezembro e encerrando-se no dia 06 de janeiro, dia dos Santos Reis. Com isto há até mais tempo para se arrecadar mais recursos para os partidos vermelho ou azul, não competindo com os diversos pedidos de doações para as noites da Festa da Padroeira.

Fidelis Mangueira

Professor e Psicólogo. Formado em Psicologia pela UFPB e Filosofia e Teologia pelo Instituto de Filosofia e Teologia do Seminário da Arquidiocese da Paraíba. Secretário de Cultura de Conceição - PBHistórico

Nascido na Europa, o Pastoril, também conhecido como Folguedo, passou por várias modificações quando chegou no Brasil.. É uma fragmentação do Presépio, sem os textos declamados e sem os diálogos. É constituído apenas por jornadas soltas, canções e danças religiosas ou profanas, de épocas e estilos variados.

Estrutura

Realizados no período natalino, os Pastoris apresentam duas modalidades: a lapinha e o pastoril propriamente dito.

A lapinha, dançada na sala da casa, diante do presépio, por meninas vestidas de pastoras, celebra o nascimento de Cristo. As pastorinhas formam dois cordões: o encarnado, liderado pela mestra, e o azul, pela contramestra. A disputa entre os dois cordões é aproveitada como forma de angariar fundos para as obras sociais da paróquia, pois a cotação de cada cordão vai subindo de acordo com as doações pecuniárias de seus defensores.

O pastoril, executado sobre um tablado ao ar livre, tem caráter profano e satírico, e é dançado e cantado por mulheres, dirigidas por um personagem cômico: o cebola, o velho, o saloio, o marujo etc.

Seus principais personagens são a Mestra, a Contramestra, Diana, a Camponesa, Belo Anjo, a Borboleta, o Pastor, o velho e as pastoras. Dois partidos vestidos de cores diferentes, dois cordões disputam as honras de louvar Jesus Menino.

Levam um pandeiro feito de lata, com cabo e sem tampa, ornado de fita com a cor do cordão a que pertence. Acompanhamento: conjunto de percussão e sopro.

Os trajes típicos da dança são saia, blusa, colete, meião e sapatilha compõem a roupa especial. Na cabeça, tiara com fitas e flores. Já nas mãos, pandeiros e maracás para casar com a cantoria e dar som à apresentação. as pastorinhas usam chapéus de palha, blusas brancas, saias xadrez, arcos e cestinhas de flores; dançam uma coreografia específica para a apresentação diante do presépio.

Como os Presépios, o Pastoril origina-se de autos portugueses antigos, guardando a estrutura dos Noéis de Provença (França). Esta festa folclórica de origem portuguesa que comemora o nascimento de Jesus, não se restringe a lugares fechados. As Pastorinhas desfilam pelas ruas da cidade, cantam marchas em louvor ao Menino Jesus envolvendo a população na brincadeira.

Essa manifestação popular ainda sobrevive em alguns municípios do Brasil.

As pastorinhas representam autos. Festivo teatro popular, alegre, mas cheio de ensinamentos morais e as músicas são cheias de ternura.

Fica evidente que a dramatização do tema permitia uma fácil compreensão em torno do episódio do nascimento do Cristo. Desta forma, a cena tomava vida, com a introdução de recursos visuais e sonoros.

No Brasil e mais precisamente em Pernambuco, segundo Pereira da Costa, o aparecimento do presépio vem, talvez, dos fins do século XVI, no Convento dos Franciscanos em Olinda, por iniciativa de Frei Gaspar de Santo Antônio, primeiro religioso a receber hábito no Brasil.

Já Fernão Cardim, o Jesuíta, nos dá uma indicação em que talvez possamos detectar as origens do Pastoril brasileiro, por conta de uma representação em 1584, no dia 5 de janeiro ou no dia dos Reis, como consta num documento, também citado por Mário de Andrade (2002): "Debaixo da ramada se representou pelos índios um diálogo pastoril, em língua brasílica, portuguesa e castelhana, e têm eles muita graça em falar línguas peregrinas, maximé a castelhana. Houve boa música de vozes, flauta, danças, e dali em procissão fomos até a igreja com várias invenções".

Também chamado de Pastorais, Bailes Pastoris, Festa da Lapinha, Terno de Reis, Pastor, Pastoril Religioso ou Profano. Mário de Andrade (2002) nomeou Pastoril.

O Pastoril, bailado que integra o ciclo das festas natalinas do Nordeste, teve início na Idade Média e era clássico em Portugal onde recebia a denominação de Auto do Presépio. Tinha, contudo, um sentido apologético, de ensino e defesa da verdade religiosa e da encarnação da divindade.

Dança de representação dramática, transforma­-se em sincretismo profano­ religioso e encontra boa receptividade principalmente na região nordeste do Brasil criando raízes em novas reelaborações dos personagens como o velho, as mestras e contramestras do bailado.

Característicos da região nordestina e em algumas partes da região norte do país, o Pastoril ganhou solo fértil em terras potiguares. Em alguns municípios Norte-Riograndense os Pastoris estão em plena atividade.

Podemos encontrar essa dança da cultura popular nos municípios de Natal (Praia de Ponta Negra e Bairro do Bom Pastor), São Gonçalo do Amarante, Ceará­ Mirim, Pedro Velho, Nísia Floresta, Tibau do Sul, São Paulo do Potengi e em Parnamirim (Praia de Pirangi), alternando­-se em fases de apogeu e de declínio.

A encenação do Pastoril integra o ciclo das festas natalinas do Nordeste, particularmente, em Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Alagoas.O pastoril é um dos quatro principais espetáculos populares nordestinos, denominados de danças dramáticas por Mário de Andrade (2002). O povo participa ativamente dos pastoris. O auto, ou enredo contado, do pastoril é todo relacionado como Natal: o auto é todo escrito em versos e musicado, com um prólogo, dois atos e um epílogo. A comicidade, uma das características mais fortes dos espetáculos populares do Nordeste, aos poucos também foi aparecendo no Pastoril. As pastorinhasse divideme m dois cordões, o azul e o encarnado.

O Pastoril Religioso do RN

Este pastoril Norte-Riograndense surgiu no início do século XX, vindo da vertente do pastoril religioso galego­português que se ressignifica nesses municípios a cada representação.


Em São Gonçalo do Amarante, por exemplo, além do Pastoril de Dona Joaquina, há os pastoris Estrela de Belém, Estrela Guia e Estrela do Norte em sua vertente religiosa. Esses pastoris exibem­se em apresentações culturais nos distritos rurais e sede da cidade em eventos de cunho religioso ou em períodos festivos da cidade.


Em Ceará­ Mirim quem comandou os pastoris nos tempos áureos foi a família Américo. Este pastoril de caráter profano­ religioso é lembrado por uma das pastoras como um "pastoril de entontar". O mesmo já perdura a mais de seis décadas sendo que o mesmo teve suas fases de declínio e de apogeu. Apresenta uma característica peculiar em sua formação de pastoras sendo doze para cada cordão acompanhadas da Mestra, Contra­mestra, Diana, Estrela, Florista, Anjo, Velho e um conjunto de sanfoneiros que acompanham as cançonetas interpretadas pelas pastoras.


Em Nísia Floresta o pastoril apresenta duas composições: uma formada apenas por adolescentes e outra por velhos ligados ao grupo de idosos da referida cidade. O grupo formado por adolescentes é da comunidade de Campo de Santana, distrito rural de Nísia Floresta. Já o Pastoril dos Idosos concentra suas atividades na sede do município. Na Praia de Pirangi, distrito de Parnamirim o pastoril recebe o nome de "Flor do Lírio" e é dançado por crianças. O Pastoril está presente na referida praia a pelo menos sessenta anos. Em tempos idos era dançado por filhas de pescadores que passaram seus conhecimentos da dança para suas filhas e netas.


O Pastoril Flor de Lírio é formado, geralmente, por sete pastoras em cada cordão, mais a Diana e o palhaço. Uma das funções dessa formação de pastoras é resgatar as canções para que as mesmas não caiam no esquecimento. No Bairro de Ponta Negra, na vila dos pescadores, registramos o Pastoril profano da Saudade ou da Melhor Idade que tem apoio do projeto de extensão Encantos da Vila da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.


O Pastoril da Saudade ou da Melhor Idade é composto por dezesseis integrantes sendo quinze mulheres e um homem, além do acompanhamento da orquestra. Assim como outros pastoris do Rio Grande do Norte, este é composto pela Mestra, Contra­Mestra, Diana e as demais participantes recebem nomes de acordo com sua posição no cordão

Fidelis Mangueira

© 2024 Todos os direitos reservados ao Grupo PCV Comunicação e Marketing Digital
Contato Editorial: 83-9.9932-4468

•   Política de Cookies •   Política de Privacidade    •   Contato   •

Fidelis Mangueira